12/03/2010 - 09:43 - Atualizado em 12/03/2010 - 09:43
Gripe suína: por que não vou comprar a vacina
Não me convenceram a embarcar no bonde do pânico
Cristiane Segatto
FONTE: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI126628-15230,00-GRIPE+SUINA+POR+QUE+NAO+VOU+COMPRAR+A+VACINA.html
VAMOS COMENTAR A MATERIA PESSOAL! (esta moça recebe nossos emails sobre a AHT, então VAMOS PRESTIGIA-LA e o texto dela...está EXCELENTE).
CRISTIANE SEGATTO
Repórter especial, faz parte da equipe de ÉPOCA desde o lançamento da revista, em 1998. Escreve sobre medicina há 14 anos e ganhou mais de 10 prêmios nacionais de jornalismo
Minha primeira reação foi de revolta. Assim como milhões de brasileiros, fui excluída da campanha de vacinação contra o vírus A (H1N1), causador da gripe popularmente chamada de suína. Perceber que sua vida vale menos que a dos outros nunca é agradável. Foi o que senti ao tomar conhecimento dos grupos prioritários estabelecidos pelo Ministério da Saúde. Faço 40 anos em abril. Os adultos saudáveis de 30 a 39 anos receberão a vacina a partir de 10 maio (confira o calendário). Por apenas 19 dias, perdi a chance de ser vacinada.
Sim, considero que não tomar uma vacina é uma perda. Das grandes. Principalmente quando a dose está disponível gratuitamente. As vacinas são uma enorme conquista da Humanidade. Podemos dividir a história da luta da espécie humana pela sobrevivência neste planeta em dois momentos: antes e depois da invenção das vacinas. Se hoje podemos sonhar em viver 100 anos, devemos agradecer aos cérebros que criaram formas de imunização contra tantas feras microscópicas.
Por interesse pessoal e jornalístico, decidi investigar se vale a pena comprar a vacina numa clínica privada. Conversei com especialistas, refleti sobre o alarde criado em torno desse vírus e cheguei à conclusão de que minha reação havia sido precipitada. Agora estou decidida: não vou comprar essa vacina. Ainda não me convenceram a embarcar no bonde do pânico.
O vírus da gripe suína não mata mais do que o da gripe comum. Nunca foi mais letal do que os vírus causadores das gripes com as quais convivemos recentemente. Não era mais letal no ano passado. Não se tornou mais letal agora. A diferença é que os casos graves (nos quais ocorre comprometimento dos pulmões) estiveram mais concentrados na faixa etária dos adultos jovens. Em julho de 2009, escrevi aqui nesta coluna que não via razão para tanto barulho em torno desse vírus. Continuo não vendo.
De lá para cá, a Organização Mundial da Saúde (OMS) foi acusada por políticos europeus de ter exagerado nos alertas emitidos sobre o H1N1 para favorecer os fabricantes de vacinas e do antiviral Tamiflu. Não acredito que a OMS tenha agido daquela maneira com a intenção deliberada de favorecer empresas. Talvez eu esteja sendo ingênua, mas ainda confio nessa instituição. Acredito, porém, que ela tenha adotado uma estratégia de comunicação desastrada. Até isso é justificável quando lembramos que em julho e agosto ninguém sabia de que forma o vírus iria se comportar. Em muitas ocasiões no passado, o surgimento de um vírus influenza diferente provocou catástrofes. Os tantos alertas emitidos, portanto, tinham algum fundamento. Se a OMS pecou foi por excesso de cautela.
O fato é que o H1N1 não era tão perigoso quanto poderia ter sido. E, de lá para cá, parece ter sofrido uma atenuação. O índice de morte entre os infectados é inferior a 1%. Assim como ocorre com a gripe sazonal de todos os anos. Todos os anos havia mortes por gripe. A diferença é que elas não eram notícia.
Os especialistas acreditam que no inverno de 2010, o Brasil terá uma situação mais tranquila do que no ano passado. “Se já não havia razão para pânico em 2009, agora há menos ainda”, diz o infectologista Esper Kallás, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
“Estima-se que até um terço da população brasileira tenha pego o vírus no ano passado. Essas pessoas não terão gripe nem transmitirão o H1N1”, diz Kallás. Além disso, o Ministério da Saúde espera vacinar 96 milhões.
Ou seja: a probabilidade de que eu pegue esse vírus neste ano é bem mais baixa do que no ano passado. Se eu for infectada, o risco de que eu sofra alguma complicação mais grave também é baixíssimo. Afinal, não faço parte de nenhum dos grupos nos quais foram registrados mais casos graves e mortes. Fazem parte desse grupo, os doentes crônicos, as pessoas imunodeprimidas, as gestantes, as crianças entre 6 meses e dois anos, os obesos, os adultos jovens. Todos eles (além dos idosos, indígenas e profissionais de saúde) foram acertadamente incluídos na campanha de vacinação do governo.
Se eu pegar o H1N1, é provável que eu sinta mal-estar durante uns dias ou caia de cama. E, uma semana depois, esteja pronta pra outra. Há outra possibilidade: talvez eu já tenha pego esse vírus e nem tenha percebido.
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Não há razão, portanto, para que eu compre essa vacina numa clínica particular. É bom lembrar que a eficácia das vacinas é de cerca de 80%. Ou seja: posso gastar dinheiro com ela e, mesmo assim, pegar gripe. Não me parece um bom negócio para uma pessoa que tem baixíssimo risco de sofrer complicações graves decorrentes desse vírus.
Dois fabricantes, Sanofi-Aventis e GlaxoSmithkline, já obtiveram na Anvisa o registro para vender a vacina ao mercado privado. Há dois tipos de vacina. A monovalente (igual à oferecida pelo governo) funciona apenas contra o H1N1. A trivalente atua contra o vírus da gripe suína e outros dois causadores da gripe sazonal. Mas as empresas ainda não entraram com o pedido de definição de preço do produto na Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED).
É possível, portanto, que a vacina ainda demore algumas semanas para chegar ao mercado privado. “Vamos oferecê-la aos nossos clientes, mas o fabricante ainda não nos disse quantas doses vai entregar, nem quando”, diz o infectologista Celso Granato, do Laboratório Fleury.
O Fleury decidiu seguir a recomendação do governo em relação aos grupos que devem ser vacinados. Não vai vacinar pessoas que não façam parte dos grupos incluídos no calendário oficial. Ou seja: só vai poder optar pela vacina oferecida pelo Fleury quem não quiser ir a um posto de saúde ou tiver perdido as datas da vacinação oferecida pelo SUS. Outras clínicas privadas, porém, devem vender a vacina a qualquer interessado.
Pais de filhos pequenos estão aflitos. Pelo calendário oficial, só serão vacinadas as crianças entre 6 meses e dois anos. Como explicar aos adultos que as crianças em idade escolar não precisam ser vacinadas se no ano passado até as escolas foram fechadas? Parece incongruente mesmo. Sobre isso, é preciso dizer três coisas:
* A decisão de fechar escolas no ano passado foi exagerada. Não foi baseada no comportamento real do vírus. Foi tomada de afogadilho, em meio ao pânico da população e à dúvida sobre como a epidemia iria se comportar.
* Em meio à crise global vivida no inverno do ano passado, o Ministério da Saúde decidiu fazer uma compra de vacina para garantir que ela fosse fornecida ao Brasil. O ideal seria que o governo vacinasse a população inteira. Não fará isso porque precisa tentar gastar o dinheiro (que é nosso; não dele) da forma mais inteligente.
* Os recursos do Ministério da Saúde são limitados. Portanto, é preciso estabelecer em quais faixas da população a vacinação trará mais benefício. Se o vírus provocou mais mortes entre os bebês abaixo de dois anos, os adultos jovens, as grávidas e os obesos, o mais inteligente é garantir a proteção dessas pessoas.
Podemos e devemos questionar a forma como prioridades são estabelecidas na área da saúde. E a maneira como o dinheiro é gasto. No caso específico do H1N1, porém, não me parece que as prioridades de vacinação estejam equivocadas.
“Pais de crianças acima de dois anos podem decidir vacinar os filhos numa clínica privada se isso os deixarem mais seguros”, diz Kallás. “Não há nenhum mal nisso, mas para evitar que os filhos tenham gripe é preciso vaciná-los todos os anos”, diz.
Se nos anos anteriores pegamos gripe, ficamos de cama e, alguns dias depois, estávamos firmes e fortes novamente, por que em 2009 entramos em desespero logo nos primeiros espirros? Por que abarrotamos os pronto-socorros, passamos cinco horas à espera de atendimento, engordamos o caixa dos fabricantes de álcool em gel e desfilamos pelas ruas com máscaras brancas como se estivéssemos à espera de um ataque com armas biológicas?
Nada disso teria acontecido se a imprensa mundial não tivesse tratado a gripe suína da forma como tratou. É preciso que fique bem claro: essa é uma opinião absolutamente pessoal, que não reflete necessariamente o ponto de vista dos meus colegas nem da Revista ÉPOCA. Para mim, a maior parte da imprensa errou. Apesar das evidências de que o vírus não era mais grave que o da gripe sazonal, os jornalistas contribuíram para a disseminação do pânico. Partiam do pressuposto de que as autoridades estavam escondendo a gravidade da situação, supunham que o vírus iria se tornar mais letal, desconfiavam de conspirações, trabalhavam sobre suposições.
O senso crítico é uma ferramenta obrigatória no exercício do jornalismo. Precisamos desconfiar de tudo, questionar tudo, investigar tudo, ter consciência de que, nos momentos de crise, alguém está tentando esconder alguma coisa da sociedade. Esse é um comportamento desejável. Quando se trata de saúde, porém, o papel do jornalista não pode se limitar a isso. É preciso refletir sobre a forma como a mensagem produzida chegará ao público. E que consequências sociais vai provocar.
A imprensa tinha obrigação de noticiar as preocupações da OMS e dos especialistas em torno do surgimento do H1N1. Na minha opinião, porém, não precisava dar tanto espaço ao assunto nem insistir no tom de catástrofe. Tudo o que a imprensa conseguiu foi abarrotar os postos de saúde e os hospitais. “O número de pessoas que procurou atendimento foi muito maior do que o número de pessoas que realmente precisava”, diz Kallás. “As pessoas iam ao pronto-socorro com resfriados banais, passavam cinco horas aguardando atendimento e pegavam gripe suína na sala de espera.”
Em 2009, o episódio da gripe suína testou nosso sistema de saúde. Deixou claro, se é que alguém ainda tinha alguma dúvida, que os pronto-socorros não têm a menor condição de lidar com o aumento de demanda imposto por uma epidemia.
“Se a gripe suína fosse algo mais grave, o Brasil não estaria nem um pouco preparado para lidar com ela”, diz Kallás. Enquanto o noticiário assustava a população, o SUS, os hospitais privados, as clínicas particulares tornavam-se caóticos. Volto a repetir o que disse em julho de 2009: o vírus H1N1 é o menor dos problemas. O que dá medo são as carências crônicas da nossa saúde pública. Se unha encravada fosse transmissível e tivesse potencial epidêmico, o Brasil estaria perdido.
Neste ano o vírus H1N1 vai continuar circulando no Brasil. Começam a surgir as primeiras mortes decorrentes de gripe, como ocorrem todos os anos. Elas são lamentáveis, mas infrequentes. Para evitá-las, é preciso garantir que as pessoas com sintomas graves recebam diagnóstico e tratamento adequados. Isso só pode ocorrer se os serviços de saúde não estiverem abarrotados de gente com sintomas leves que, movida pelo pânico, congestiona os hospitais.
Se você faz parte da população incluída no calendário oficial, não perca a chance de tomar a vacina. Se não faz parte, converse com seu médico e reflita se realmente vale a pena gastar dinheiro com ela. Provavelmente você chegará à conclusão de que, como eu, não precisa se preocupar com isso.
Você vai tomar a vacina? Está pensando em comprá-la? Tem medo da vacinação? Conte pra gente. Queremos ouvir a sua opinião.
(Cristiane Segatto escreve às sextas-feiras.)
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Comentários
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JOEL MARTINI DE CAMPOS | SP / São Paulo | 12/03/2010 21:45
OMS x IMPRENSA x GRIPE SUÍNA
Sempre aparece no mundo um novo gênio. Êsse novo gênio chama-se DONALD RENSFIEL,opá desculpe-me por não ter lembrado seu sobrenome correto.Então encontrou a fórmula de medicamento para gripe aviária, chama-se TAMIFLU, essência de aniz sintetizada.Com a colaboração da OMS divulgou para todo mundo sobre a gripe aviária que não houve em 2005 e depois como gênio que é conseguiu que a OMS mudasse o conceito de PANDEMIA para decretar issso para a NOVA GRIPE, GRIPE SUÍNA, H1N1, opá como sou leigo a fonte disso é:-entrevista com o cientista especialista para o mundo em gripe da COLABORAÇÃO COCHRANE dada para REVISTA ÉPOCA, explicando que não seria uma PANDEMIA e a OMS estava equivocada.Conclusão:- Até êste momento morreram no mundo de H1N1 somente pouco mais de 16.000 pessoas em 213 países.A IMPRENSA é culpada por divulgar essa HISTERIA fazendo com que somente o Brasil tenha em estoque 21.900.000 tratamentos de anti-viarais para a SEGUNDA ONDA que virá no inverno. Se não houve nem PRIMEIRA ONDA com 1500 mortos no BRASIL, segundo colocado em óbitos no mundo, onde haverá a SEGUNDA ONDA, e os anti-virais irão para o lixo pois os 9.000.000 comprados em 2005 já estão vencidos,agora sou favorável à vacinação,fonte dessas informações:- MINISTÉRIO DA SAÚDE para REVISTA ÉPOCA. Precisamos saber qual é o preservativo usado nessa vacina se não é o derivado do mercúrio. Não precisamos dêsses medicamentos,faça AUTO-HEMOTERAPIA como u e minha mãe de 87 anos:-rnsites.com.br/auto-hemoterapia.htm
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Ministério da Saúde | DF / Brasília | 12/03/2010 17:16
Ministério da Saúde
Prezado José, A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que foram distribuídas cerca de 80 milhões de doses da vacina contra a influenza H1N1 e até o final de novembro foram vacinadas aproximadamente 65 milhões de pessoas. A grande maioria do que vem se apresentando se assemelha a vacina sazonal administrada em idosos, que são reações leves: dor local, febre baixa, dores musculares, que se resolvem em torno de 48 horas. Att, Ministério da Saúde fernanda.scavacini@saude.gov.br
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Iara Nascimento | RJ / Campos dos Goytacazes | 12/03/2010 16:03
Receio ...
Boa tarde, Cristiane. Tenho lido vários artigos sobre a vacina e sobre o H1N1, para tirar minhas conclusões. Recentemente recebi de amigos, e-mail's alertando que a vacina tripla contém mercúrio, que é altamente letal ao ser humano (fora outras informações). Outros dizem que há várias contra-indicações.... como disse, estou lendo e pesquisando, mas sem estresse. Não adianta alarmismo e confusão, não vão resolver a situação. Só fico triste porque a população, em geral, fica sempre no meio do tiroteio... por mais que busque se informar.
FONTE: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI126628-15230,00-GRIPE+SUINA+POR+QUE+NAO+VOU+COMPRAR+A+VACINA.html